sábado, 20 de dezembro de 2008

Curiosidades da História (responda o leitor) - 1



Com este post, dá-se início a uma rubrica que visa convidar o leitor a responder a uma questão relacionada com as imagens publicadas. E a questão que aqui fica (para ser respondida nos comentários) é a seguinte:

Que relação existe entre a personagem retratada e a bem conhecida instituição dos EUA, cujo emblema aparece logo abaixo?

A resposta certa será incluída num novo post, que esclarecerá este pequeno "enigma".

Actualização: Carlos Ramalhinho já respondeu correctamente (comentário 1).

domingo, 14 de dezembro de 2008

Hino da Carta (1834-1910)


O hino português é um dos símbolos nacionais. O hino actual, A Portuguesa, foi composto em 1890 como canção patriótica, na sequência do Ultimato britânico (por causa da questão do "Mapa Cor de Rosa"). A início cantado por todos, depressa foi adoptado pelos republicanos, que fariam da composição de Alfredo Keil, com letra de Henrique Lopes de Mendonça, hino nacional após a implantação da República, em 5 de Outubro de 1910.

O que poucos portugueses conhecerão é o hino do período da Monarquia Constitucional. Composto por D. Pedro IV, que o designou "Hymno da Carta", em alusão à Carta Constitucional por ele outorgada em 1826, foi o Hino Português entre Março de 1834 e Outubro de 1910.

A letra era a seguinte:

Ó Pátria, Ó Rei, Ó Povo,
Ama a tua Religião
Observa e guarda sempre
Divinal Constituição

(Coro)
Viva, viva, viva ó Rei
Viva a Santa Religião
Vivam Lusos valorosos
A feliz Constituição
A feliz Constituição

Ó com quanto desafogo
Na comum agitação
Dá vigor às almas todas
Divinal Constituição

(Coro)
Viva, viva, viva ó Rei
Viva a Santa Religião
Vivam Lusos valorosos
A feliz Constituição
A feliz Constituição

Venturosos nós seremos
Em perfeita união
Tendo sempre em vista todos
Divinal Constituição

(Coro)
Viva, viva, viva ó Rei
Viva a Santa Religião
Vivam Lusos valorosos
A feliz Constituição
A feliz Constituição

A verdade não se ofusca
O Rei não se engana, não,
Proclamemos Portugueses
Divinal Constituição

(Coro)
Viva, viva, viva ó Rei
Viva a Santa Religião
Vivam Lusos valorosos
A feliz Constituição
A feliz Constituição

A música do Hino da Carta é reproduzida neste pequeno vídeo de minha autoria (JorgeF).

domingo, 23 de novembro de 2008

Reconstituição histórica: Saxões e Normandos

Um pequeno filme (na verdade, um slide show com banda sonora) de uma reconstituição histórica levada a cabo em Inglaterra, em Agosto de 2007: Festival of History, em Kelmarsh Hall. O "filme" foi "realizado" por mim (JorgeF).

Apresentado como sugestão para os leitores, em especial os mais jovens, que queiram produzir algo no género (e de preferência, melhor) para os seus trabalhos escolares.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

O senhor português das Baleares





D. Pedro Sanches foi o quinto filho legítimo do rei D. Sancho I (Sanches significava "filho de Sancho"). Já não conheceu o seu avô, D. Afonso Henriques, pois nasceu dois anos depois do falecimento daquele. Para ser mais preciso: em 23 de Fevereiro de 1187. Morreria em 2 de Junho de 1258, com a provecta idade de 71 anos.

Como todos os filhos segundos, fossem da realeza ou da nobreza, dificilmente D. Pedro podia aspirar à herança dos domínios do seu pai. Ou neste caso, do Reino. O seu irmão mais velho, D. Afonso, era o príncipe herdeiro (três irmãs haviam nascido antes de D. Afonso: D. Teresa, D. Sancha e D. Constança; na condição de mulheres, perderam o direito de sucessão em favor do irmão, mesmo mais novo). Diga-se que D. Pedro Sanches teve muitos irmãos e irmãs, e meios-irmãos e meias-irmãs. O seu pai teve 11 filhos legítimos e 8 bastardos.

Foi precisamente uma zanga entre irmãos que levou D. Pedro a envolver-se numa guerra com D. Afonso, quando este era já rei, o segundo de seu nome. Tomou partido pelas suas irmãs, que se opunham ao mano soberano. E foi junto de uma delas, D. Teresa, casada com o rei de Leão, que se refugiou. Partiu depois para Marrocos, pondo-se ao serviço do rei Almóada. A vida de aventureiro errante, ainda que girando quase sempre nas altas esferas na nobreza (mesmo de uma fé diferente da sua), era comum entre os filhos segundos de sangue real, na época.

Em 1229, D. Pedro foi para o reino de Aragão. Casou com a Condessa de Urgel ainda nesse ano, e no seguinte estava em Ibiza como conquistador, arrebatando, com o Bispo de Tarragona, a ilha aos mouros. Em 1231, por morte da mulher, torna-se Conde de Urgel. Como D. Pedro era natural de um reino estrangeiro (razão pela qual a sua mulher tinha mantido a titularidade do Condado de Urgel quando casaram), o rei Jaime I de Aragão decidiu contestar o direito de sucessão do infante português. Após algumas disputas, chegaram a acordo. D. Pedro cedeu o Condado de Urgel, e em troca recebeu, como feudo do rei de Aragão, o domínio de Maiorca, as ilhas de Ibiza e Formentera, e ainda de três castelos, dois nas ilhas Baleares e outro no continente, em Alicante. Após a sua morte, todos estes territórios voltaram à posse do rei de Aragão, pois D. Pedro Sanches teve somente dois filhos ilegítimos, os quais não podiam herdar os domínios do seu pai natural.

Imagens: Em baixo, as ilhas Baleares (foto obtida a partir do programa Google Earth). Em cima, miniatura "representando" D. Sancho I, pai de D. Pedro Sanches, e a bandeira do Reino de Portugal. Pintura e foto de JorgeF.

domingo, 16 de novembro de 2008

A barca e o barinel, esses esquecidos dos Descobrimentos



"Que navio associa à época dos Descobrimentos Portugueses?" - a esta pergunta, muitas pessoas responderiam de imediato "a caravela". E a verdade é que este tipo de embarcação, surgido durante a década de 40 do século XV, foi muito importante para as viagens que se realizaram por iniciativa do Infante D. Henrique ou, após a sua morte, por Fernão Gomes, rico mercador de Lisboa, e mais tarde por iniciativa do Príncipe Perfeito, o futuro Rei D. João II. Navio muito rápido para a época, fácil de manobrar, com um calado que permitia navegar em águas pouco profundas, a caravela estava equipada com velas triangulares - também conhecidas por velas latinas - que permitiam bolinar, ou seja, navegar com ventos contrários à rota desejada.

Mas quando a caravela surgiu, já os portugueses haviam dobrado o cabo Bojador, essa "barreira" do fim do mundo das lendas medievais. Gil Eanes derrubou esses mitos em 1434, contrariando ventos, correntes fortíssimas e os perigos de uma navegação costeira ainda sem mapas para orientação (era nessas viagens que se tiravam notas e faziam esboços para, no futuro, outros irem mais precavidos de tabelas e mapas, ainda que não menos receosos)... e fê-lo sem caravela!

Os feitos notáveis dos primeiros navegadores que ousaram enfrentar os perigos do Oceano Atlântico tiveram como veículo embarcações ainda mais frágeis e tecnicamente menos desenvolvidas que a caravela. Foi em barcas que se redescobriu o arquipélago da Madeira e se atingiram as ilhas dos Açores. Foi em barcas e barinéis que os primeiros colonos se deslocaram para os seus definitivos lares insulares. Foi a barca que permitiu a Gil Eanes, após doze anos de tentativas frustradas, ultrapassar o Bojador.

Como eram esses navios?

A barca comportava uma tripulação de 20 homens e podia ter velas quadrangulares ou latinas. Estava já equipada com leme central à ré (ou seja, na traseira do navio).

O barinel era um pouco maior que a barca e podia ter uma tripulação de 30 homens. Havia barinéis com um, dois e até três mastros. Tal como a barca, estava equipado com cesto de gávea, onde um marinheiro de visão aguda procurava, do alto, vestígios de terra firme no horizonte. A parte dianteira do navio era mais elevada - o castelo de proa. Estas características foram desenvolvidas e incorporadas na caravela, que substituiu a barca e o barinel nas viagens de exploração da costa africana a partir da década de 40 do século XV.

Não há imagens conhecidas de barinéis. As que aqui se reproduzem são reconstituições de barcas. Para saber um pouco mais sobre barcas e barinéis, sugiro a visita a este endereço (Instituto Camões):
http://www.instituto-camoes.pt/cvc/navegaport/c04.html

terça-feira, 11 de novembro de 2008

90º Aniversário do Armistício - 11 de Novembro de 1918




Passam hoje 90 anos sobre o fim dos combates naquela que foi, durante algum tempo, conhecida como A Grande Guerra. Houve quem lhe chamasse "a guerra para acabar com todas as guerras". Uma geração depois, um cataclismo bélico ainda maior obrigaria a uma reclassificação: a que terminara às 11 horas de 11 de Novembro de 1918 passaria a ser conhecida por Primeira Guerra Mundial.

O mundo mudou bastante após o suicídio colectivo da Europa, ocorrido entre 1914 e 1918. Nacionalismo extremo, militarismo, convicções e preconceitos civilizacionais destruíram impérios caducos e redistribuíram os povos, por conveniência ou acaso, num novo mapa político. Nas escolas dos anos 20, enquanto eram preparados para a carnificina seguinte, os alunos passaram a aprender nomes estranhos de países como Jugoslávia ou Checoslováquia. Souberam que a Polónia já existira e fora apagada do mapa várias vezes e agora emergia de novo. E que a Rússia era vermelha (e até já não se chamava Rússia, embora em alguns quadrantes houvesse receio de entrar em pormenores quando um estudante mais afoito perguntava o que queria dizer URSS). Observando de fora do velho continente dilacerado, a jovem nação dos Estados Unidos da América emergia como a grande vencedora, assumindo até hoje a hegemonia económica mundial que a Europa deixara cair.

A consciência dos europeus tardaria a compreender este facto. Nos anos imediatos ao conflito, a dor e a estupefacção pelas tremendas perdas humanas tomou conta dos que ficaram para recordar. Foi uma geração perdida, metralhada, bombardeada, gaseada, permanentemente jovem nos esqueletos e pedaços que se espalharam pelos campos de batalha. Sucediam-se as homenagens, o culto do Soldado Desconhecido, esse mártir anónimo que podia ser um qualquer filho, pai ou irmão. E os desfiles entre lágrimas a cada 11 de Novembro, juntando familiares dos mortos e os sobreviventes da mortandade, muitos com marcas demasiado visíveis do engenho assassino do Homem nas faces ou membros, ou na falta destes.

Portugal participou na Grande Guerra entre Março de 1916 e Novembro de 1918, nas frentes de guerra do noroeste europeu (Flandres) e de África (sul de Angola e norte de Moçambique). Declarou guerra à Alemanha e alinhou com a Tríplice Entente (Grã-Bretanha, França e Rússia) e seus aliados. Não vem agora ao caso descrever os motivos dessa participação. Hoje passam 90 anos sobre o fim de uma loucura colectiva. É tempo de recordar todos os que perderam a vida ou que sofreram atrozmente entre Agosto de 1914 e Novembro de 1918. Entre eles, muitos militares portugueses. Como todos os que participaram na Grande Guerra, merecem de nós a memória de um respeito sentido e o empenho presente na preservação da paz.

Para quem quer saber mais sobre o conflito (site em inglês):
http://www.firstworldwar.com/

Leituras escolhidas, em português:

FRAGA, Luís Manuel Alves de, O Fim da Ambiguidade. A Estratégia Nacional Portuguesa de 1914-1916, Lisboa, Universitária Editora, 2001. Sobre a situação internacional e a entrada de Portugal na guerra.

HENRIQUES, Mendo Castro; LEITÃO, António Rosas, La Lys, 1918. Os Soldados Desconhecidos, Lisboa, Prefácio, 2001. A derrocada do Corpo Expedicionário Português na Flandres, face à ofensiva alemã de 9 de Abril de 1918.

MARQUES, Isabel Pestana, Das Trincheiras com Saudade. A vida quotidiana dos militares portugueses na Primeira Guerra Mundial, Lisboa, A Esfera dos Livros, 2008. Alguns erros de pormenor aqui e ali, todavia longe de obscurecerem o magnífico trabalho da autora.

MIRÃO, Cardoso, Kináni? (Quem vive?). Crónica de Guerra no Norte de Moçambique, 1917-1918, Lisboa, Livros Horizonte, 2001. As misérias de uma estranha guerra na colónia portuguesa da África Oriental, contadas na primeira pessoa.

Leituras escolhidas, em outras línguas:

HANSON, Neil, The Unknown Soldier. The Story of the Missing of the Great War, London, Corgi Books, 2007. A reconstituição dos últimos meses de três militares desaparecidos na guerra (um inglês, um alemão e um americano), a partir das suas cartas para as respectivas famílias e de outra documentação, e um interessante estudo sobre o nascimento da homenagem ao Soldado Desconhecido.

MIQUEL, Pierre, Les poilus. La France sacrifiée, Paris, Plon, 2000. Narrativa extensa e bem detalhada sobre a Grande Guerra, na perspectiva do militar francês.

Imagem: Monumento aos Combatentes da Grande Guerra, Avenida da Liberdade, Lisboa. Foto de JorgeF.

domingo, 5 de outubro de 2008

Intervalo (longo...)

O projecto "Com História" tem estado parado, mas será retomado daqui a algumas semanas. Nessa altura, será um projecto a muitas mãos - assim espero!

Até breve!

quarta-feira, 19 de março de 2008

A origem do termo "OK"


Uma expressão utilizada universalmente para referir que "está tudo bem" é constituída por duas letras: OK. Tornou-se comum a partir dos meados do século XIX nos Estados Unidos da América, mas a sua origem é incerta. Segundo os dicionários Oxford (publicados pela Oxford University Press), há quem reclame raízes escocesas, gregas, francesas ou até ameríndias (da nação norte-americana Choctaw) para OK.


Uma história curiosa sobre a expressão OK refere que terá surgido a partir do slogan presidencial do candidato Democrata (e Presidente em exercício, em busca de novo mandato) às eleições americanas de 1840, de seu nome Martin Van Buren. Era conhecido por "'Old Kinderhook" - nome da terra onde nascera, no Estado de Nova Iorque. Os seus apoiantes formaram o "OK Club", mas não conseguiram que Van Buren fosse reeleito Presidente. Perdeu para William Henry Harrison, que no entanto teve pouco tempo para saborear a vitória, pois morreu um mês depois de ser eleito.


Uma das mais plausíveis origens, no entanto, relaciona-se com a Guerra Civil Americana (1861-1865), que opôs os Estados do Norte (mais industrializados) aos Estados do Sul (cuja economia era basicamente rural e assente em mão-de-obra escrava) que saíram da União, formando os Estados Confederados da América. Cada batalhão de infantaria do Exército Federal (nortista) tinha de reportar regularmente ao comando do respectivo regimento o número de baixas que contabilizava em determinado momento: quantos mortos ou incapacitados por ferimento ou doença. Começava a lista com o número de mortos (killed), assim expresso deste modo, por exemplo: 5k (five killed, ou seja, cinco mortos). Quando um batalhão não tinha sofrido baixas, reportava 0k (zero killed). Mas depressa se tornou vulgar informar coloquialmente o comandante do regimento que um determinado batalhão estava OK, trocando o zero pela letra O - ou seja, que a unidade militar não tinha sofrido perdas e estava operacional.


Esta é uma das possíveis origens do termo OK, segundo um artigo da revista BBC History.
A imagem alusiva à Guerra Civil Americana foi retirada do site Soldier Studies: http://www.soldierstudies.org/index.php?action=webquest_2

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

1 de Fevereiro de 1908 - O Regicídio


No dia 1 de Fevereiro de 1908, passava já das 17.00 horas, o landau (carruagem aberta, puxada por cavalos) que transportava a família real percorria o Terreiro do Paço - quero dizer, a Praça do Comércio, pois foi assim que o Marquês de Pombal rebaptizou esse espaço amplo virado ao Tejo, após a reconstrução imposta pelo Terramoto de 1755. O povo é que continua a teimar no antigo nome, passados 250 anos. Mas não nos dispersemos, voltemos à história.


Era precisamente o povo que ladeava o caminho tragado devagar pelo landau. Suficientemente devagar para que, já quase a virar para a rua do Arsenal, irrompesse de entre os curiosos um barbudo professor primário, ex-sargento de cavalaria. Exímio atirador - como de resto o era o seu alvo, o rei D. Carlos. Uma carabina novíssima, um ódio incontido. Pelo rei, pelo ditador João Franco que ele nomeara, por um sistema político que apodrecia com Portugal. Tempo para colocar o joelho em terra, apontar com precisão militar. O monarca tomba, mortalmente atingido por Manuel Buíça. Confusão, pânico, os espectadores viram turba. Outro indivíduo, a mesma indignação regicida e suicida. Alfredo Luís da Costa, também republicano, também intransigente, salta para o estribo do carro hipomóvel, desfere mais dois tiros em D. Carlos com uma Browning automática. À queima-roupa. Mas há resistência. D. Amélia, a rainha já viúva, tenta afastar o agressor, bate-lhe com um ramo de flores. Mais tiros. Quantos executores havia entre a multidão espavorida? D. Luís Filipe, segundo se crê, fere com a sua pistola o Costa, mas também é por ele atingido. Logo depois, a mortífera carabina do Buíça ceifa-o. D. Manuel, também tocado por uma bala, mas sem gravidade, ainda acode ao irmão, tenta estancar o sangue da horrível ferida na face. Em vão. A escolta a cavalo, os polícias, os soldados acodem. Há confusão. O cocheiro, ferido numa mão, faz correr os cavalos. Um inocente é morto. Julgá-lo-ão regicida, mas mais tarde - muito tarde - o engano será confirmado. Buíça e Costa são executados no local. Se havia outros republicanos prontos a imolarem-se por uma crença, esses conseguiram escapar.

O drama ainda hoje divide opiniões. O historiador deve analisá-lo longe das paixões políticas e ideológicas, com frieza. Houve vidas ceifadas, ódios despejados. O acontecimento pode ter acelerado o caminho para o fim da monarquia, mas como Fernand Braudel nos ensinou, há desenvolvimentos mais lentos, que a fúria dos homens e o seu afã revolucionário ou reformista não podem controlar nem moldar de imediato. A crise económica, o mal-estar social, as esperanças frustradas continuariam. Sob a bandeira azul e branca, tanto como sob a verde-rubra da República.
Foto: Landau do Regicídio - Paço de Vila Viçosa.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

31 de Janeiro de 1891









Foi a primeira tentativa de implantar o regime republicano em Portugal. Aconteceu no Porto, estava a humilhação do Ultimato britânico - ocorrida um ano antes - ainda bem fresca. O nacionalismo exacerbado dos portugueses de então fora aproveitado pela oposição republicana, mobilizando ruidosos protestos contra a Inglaterra, essa velha aliada que se revelara, afinal, pérfida e traiçoeira. Mas também havia remoques contra os partidos monárquicos (o partido Regenerador e o partido Progressista), que caminhavam para o esgotamento do rotativismo do poder, continuando o país a afundar-se na crise económica. E muito descontentamento, enfim, contra o rei D. Carlos, entronado em Dezembro de 1889, um mês antes da "vergonhosa cedência" perante o Ultimato. Começava mal o reinado do penúltimo monarca de Portugal.

Mas faltava, também, unidade ao Partido Republicano Português (PRP), dividido entre moderados e radicais. Fazia muito barulho, cavalgara a onda de indignação de 1890, mas a base social de apoio era, ainda, reduzida: essencialmente de classe média e urbana, uma minoria num país de 80% de analfabetos e quase a mesma percentagem de população rural.

O "31 de Janeiro" foi o produto de um certo aventureirismo republicano radical. Instigado por jornalistas e advogados ligados à Maçonaria, o golpe foi levado a cabo por soldados, sargentos e uns poucos oficiais do Regimento de Infantaria 10, mas não conseguiu mobilizar a maior parte da oficialidade e da própria população civil. Começou às 4 horas da madrugada. Pelas 10.30 da manhã estava tudo terminado, após um tiroteio cerrado sobre o edifício dos Paços do Concelho do Porto e a rendição dos revoltosos perante o cerco das unidades militares fiéis à monarquia. Um fracasso comprometedor para o PRP. Apesar de tudo, durante três horas o Porto viveu em República. Tanto foi o tempo que medeou entre a declaração do novo regime, o hastear da bandeira verde-rubra, o entoar d' A Portuguesa, e a constatação de que, afinal, não havia um país para governar... ainda.

Gravuras: Proclamação da República no Porto; Bombardeamento dos Paços do Concelho.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

João Caboto (ou John Cabot, ou Zuan Chabotto)






Este navegador de origem italiana foi contemporâneo de Vasco da Gama e de Cristóvão Colombo. O seu nome verdadeiro era Zuan Chabotto e terá nascido em Génova por volta de 1450. Em 1461 a sua família fixou-se em Veneza. Na década de 80 do século XV, João Caboto dedicou-se às viagens de comércio no Mediterrâneo Oriental - o tráfico de especiarias entre venezianos e turcos otomanos, que estes traziam através da Rota do Levante. Em 1489, porém, Caboto abriu falência e fugiu de Veneza.

Em 1492 estava em Valência onde - graças aos seus conhecimentos de arquitectura - dirigia as obras de melhoramento do porto daquela cidade. Em 1494 orientava a construção de pontes em Sevilha, mas foi despedido daquela função e rumou a Lisboa. Aqui tentou obter financiamento para uma viagem através do Atlântico, propondo chegar à China e ao Japão através de uma passagem que acreditava existir a norte do continente americano. Tal como acontecera anos antes com Cristóvão Colombo, D. João II não lhe concedeu qualquer crédito.

João Caboto dirige-se então para Inglaterra. Aqui trava amizade com Giovanni de Carbonaris, o enviado do Papa para a cobrança de impostos eclesiásticos em Inglaterra. Graças à influência de de Carbonaris na corte inglesa, Caboto obtém do rei Henrique VII a autorização necessária para a ambicionada viagem de exploração. Parte de Bristol em 20 de Maio de 1497, na companhia do seu filho Sebastião, num modesto navio equipado à sua custa, o Matthews, rumo ao norte do continente americano.

Após seis semanas no mar, descobre a actual Terra Nova. Aí iça a bandeira inglesa. Depois de explorar cerca de 650 Km de costa, regressa a Inglaterra, onde chega a 6 de Agosto. Em 1498 volta a partir para a Terra Nova com uma expedição de cinco navios. No entanto, uma violenta tempestade separa a frota. É provável que uns se tenham dirigido para norte da Terra Nova e outros rumado ao mar das Caraíbas. Certo é que só um navio regressa, o de Sebastião Caboto. O seu pai é dado como desaparecido - provavelmente morto. Durante séculos foi assim que a história de João Caboto terminou.

Contudo, investigações mais recentes permitem concluir que o navegador ainda regressou a Inglaterra em 1500, morrendo cerca de três meses depois da sua chegada. Quanto a Sebastião Caboto, continuou o projecto do pai, fazendo várias viagens ao norte do continente americano, entre 1502 e 1509, sempre na esperança de descobrir a "tal" passagem pelo noroeste - e sempre financiado pela Inglaterra. Não a encontrou, mas pôde confirmar que a América era mesmo um continente - e não uma ilha, como inicialmente pensara Cristóvão Colombo.

Bibliografia:
DERAIME, Sylvie, e outros - As Grandes Explorações, Lisboa, Fleurus, 2005.
KEYS, David, "John Cabot", in BBC History Magazine, vol. 9, n. 1, January 2008, p. 10.
Imagens: "John Cabot", pormenor de uma pintura de 1906; e mapa actual da Terra Nova.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Futebol com História (II)





Espanha, 1936-1939. Uma sangrenta guerra civil opôs o governo republicano aos rebeldes nacionalistas, liderados pelo general Francisco Franco. Este era apoiado pela Itália Fascista e pela Alemanha Nazi, países que enviaram homens e material de guerra para combater ao lado da Falange espanhola. E também pelo Portugal de Salazar, que enviou um contingente de voluntários - os Viriatos. Do lado republicano, cujo governo era composto por uma coligação de partidos de esquerda, os apoios não eram tão fortes. Excepto por parte da União Soviética, que enviou material de guerra e conselheiros militares. Os países democráticos, como a França ou o Reino Unido, ficaram-se por uma neutralidade formal, embora muitos voluntários anti-fascistas tenham ido combater para Espanha, integrados nas Brigadas Internacionais ou em outras unidades. Entre esses combatentes estrangeiros figuraram, por exemplo, os escritores Ernest Hemingway (americano) e George Orwell (inglês).

A vitória, nesse conflito que serviu de antecâmara da 2ª Guerra Mundial, pertenceu aos nacionalistas. Francisco Franco instaurou uma ditadura que só terminou após a morte do generalíssimo em 1975.

O vídeo que aqui trago foi concebido pelo Club Atlético de Madrid para comemorar o seu centenário (em 2003) e é uma original forma de conjugar uma visita ao passado histórico (mesmo o mais sombrio, como o de uma guerra civil) com a paixão futebolística: o desporto favorito nos anos 30 sobrepondo-se ao ódio ideológico entre republicanos e nacionalistas. O soldado republicano, de lenço vermelho ao pescoço, cumprimenta de punho erguido gritando "Ahupa Athletic!"; o prisioneiro nacionalista faz a saudação fascista, de braço estendido, gritando o mesmo incitamento clubista!...
É raro ver peças de publicidade com tanta inteligência.



Curiosidade extra nº 1: o Athletic Club de Madrid (nome original, fundado em 1903 como filial do Athletic Bilbao) foi designado como Club Atlético de Aviación entre 1941 e 1946, pois o nacionalismo exagerado do regime franquista quis extirpar todos os estrangeirismos da língua castelhana. Assim, até "football" passou a "balonpié" - nome que ainda faz parte, por exemplo, da designação oficial do Bétis de Sevilha. Em Portugal também houve esta moda passageira - "pedibola" em vez de "futebol". Mas o bom senso acabou por se impor.


Curiosidade extra nº 2: Os fãs do futebol sabem que o equipamento tradicional do Atlético Madrid é vermelho e branco, com calção azul. Bom, nem sempre foi assim. Tanto o Athletic Bilbao como o Atlético Madrid compravam os seus equipamentos em Inglaterra e era o Blackburn Rovers que os fornecia. Camisola bipartida azul e branca e calção azul, era esse o equipamento dos dois clubes, semelhante ao do Blackburn. O problema surgiu em 1911, quando o dirigente que comprava os equipamentos para o clube de Bilbau e para a sua filial de Madrid não conseguiu ver a sua encomenda satisfeita a tempo junto do Blackburn. Com a época a começar, havia que encontrar uma alternativa rapidamente. Recorreu ao Southampton F. C., que equipava de camisola listada de vermelho e branco e calção negro. E assim passaram a vestir, até hoje, os dois clubes, com a pequena diferença de que o Atlético Madrid manteve o calção azul do anterior equipamento.