segunda-feira, 27 de abril de 2009

Monumentos portugueses (4) - Fortaleza de Peniche

Partiu de D. Manuel I (cujo reinado decorreu entre 1495 e 1521) a ideia de edificar uma fortificação na povoação de Peniche, que ajudasse a proteger o litoral dos ataques de piratas ingleses, franceses e berberes. No entanto, foi só no tempo do seu sucessor, D. João III, que os trabalhos tiveram início, e mesmo assim somente no último ano do reinado: 1557. A conclusão da obra ocorreu já no reinado de D. Sebastião, em 1570. É deste período a fortaleza primitiva, de traça circular, que se vê na imagem abaixo.




No século XVII, no decurso da Guerra da Restauração (1641-1668), a fortificação foi ampliada, desta feita já com a traça poligonal estrelada, característica da época, mais adequada às exigências da evolução da artilharia. O projecto do engenheiro militar francês Nicolau de Langres foi completado posteriormente pelo engenheiro português João Tomaz Correia.




No decurso da 1ª Invasão Francesa, a fortaleza esteve ocupada pelas forças comandadas por Jean-Andoche Junot. Os soldados franceses picaram o escudo com as armas reais portuguesas sobre o portão principal.




Já no início do século XX, perdida a sua função defensiva, a fortaleza serviu de abrigo a Boers (sul-africanos de origem holandesa) que pediram asilo a Portugal, depois da sua derrota na guerra com os ingleses na África do Sul (1900-1902). Durante a Primeira Guerra Mundial serviu de prisão para soldados e marinheiros alemães capturados pelas forças portuguesas. Convertida em prisão de alta segurança para prisioneiros políticos durante o Estado Novo (1933-1974), ficou célebre a fuga encetada por Álvaro Cunhal e outros militantes do PCP (então na clandestinidade) em Janeiro de 1960.




Desde 1984, a fortaleza abriga num dos seus pavilhões o Museu Municipal, incluindo o Núcleo da Resistência - uma reconstituição do ambiente de uma prisão política durante a ditadura do Estado Novo.

Todas as fotos deste artigo são da autoria de JorgeF.

sábado, 18 de abril de 2009

18 de Abril, Dia Mundial dos Monumentos e Sítios

Baluarte de São Vicente a par de Belém

Assim se designava, no século XVI, a fortificação que hoje é conhecida simplesmente por Torre de Belém. Construída durante o reinado de D. Manuel I, foi iniciada em 1514 pelo arquitecto Francisco de Arruda, tendo sido concluída em 1520. Integrava o plano defensivo da barra do Tejo, em conjunto com o baluarte de Cascais, na margem direita do rio, e o baluarte de Caparica, na margem esquerda. O baluarte de São Vicente ficava então completamente cercado pela água, pois erguia-se sobre um afloramento rochoso que se encontrava defronte da praia de Belém, de onde partiam as naus para a Índia.



Para uma visita virtual à Torre de Belém, consulte-se esta página. Mas nada substitui a visita ao monumento, que se aconselha!

Fotografia de JorgeF.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Monumentos portugueses (2) - Muralhas e castelo de Trancoso

O castelo de Trancoso fica situado na Beira Alta, não longe da nascente do rio Távora. As suas origens remontam ao período da Reconquista Cristã, havendo já no início do século X referência a um castelo em Trancoso.
Por ocasião da formação do Condado Portucalense, a povoação de Trancoso e o seu castelo fizeram parte do dote de D. Teresa, filha de Afonso VI de Leão e Castela e esposa do Conde D. Henrique. O filho de ambos, D. Afonso Henriques, por aquelas paragens batalhou contra os muçulmanos entre 1140 e 1155. Nesta data, o primeiro rei de Portugal atribuiu foral à povoação. Em 1173, o castelo e todos os domínios de Trancoso foram doados aos Templários.
O castelo tem traços do estilo românico e gótico. Compreende cinco torres quadrangulares. A torre de menagem, de planta quadrada, tem uma curiosa configuração piramidal. A cintura muralhada que abraça a povoação é rasgada por cinco portas e dois postigos. Para uma descrição mais pormenorizada sobre o castelo e muralhas de Trancoso, veja-se esta página.

Torre e panos de muralha do castelo


Portas d'El-Rei


Portas do Carvalho


Às Portas do Carvalho, também conhecidas por Portas do Cavalo, encontra-se ligada a lenda de João Tição da Fonseca.

O INTRÉPIDO JOÃO TIÇÃO DA FONSECA
«Sem conhecermos mais gordo João Tição da Fonseca, tão só pelo retrato sumamente adulterado da lenda, não nos parece curial deixar passar em falso o seu presumível feito, nem tampouco, a sua descrição física que, quiçá fantasiosa, pecará por defeito, que não por excesso.
0 Tição devia ser um jovem e valente guerreiro, hercúleo, de ombros largos e peito em arco, daqueles homens talhados em granito que dariam dois se fossem partidos ao meio.
Em dia melancólico, olhando os longos desertos e a presença incomodativa dos mouros que faziam demorado cerco à praça de Trancoso, o guerreiro magicou sobre o meio de sair montado no corcel e correr de jau para jales em desafio à moirama excomungada.
Enquanto a maioria dos do castelo se baldeava no sono, numa sinfonia de roncos, assobios e arfares de duvidosa partitura, João Tição resolvera matar o tédio dos dias de clausura forçada. Causava-lhe certo engulho ver enferrujar na bainha os gumes da sua espada.
Saiu do castelo pela calada da noite, apenas pressentido por lobos e avejões, catrapus catrapós sobre o cavalo, direitinho ao arraial dos agarenos que, a uma légua do castelo, ferravam o galho em sonhos de princesas em trajes sumários e haréns recheados.
Com uma certa temeridade e outra tanta dose de loucura, conseguiu ludibriar as sentinelas e, penetrando no acampamento, apoderou-se da bandeira do crescente que espanejava sobre uma tenda. Refreando os ímpetos de espezinhar ali mesmo o guião, montou no cavalo e partiu em desfilada de regresso ao castelo, levando desfraldada ao vento a sua vitória.
Porém, um homem excluído da beatitude de sonho embalador, deu conta da marosca e alertou os dorminhocos, mau grado ter preparado os ouvidos para ouvir impropérios onde não era mencionado o nome de Alá. Feridos na soberbia, os mouros zarparam em perseguição do atrevido. Montados em fogosos e descansados puros-sangue de raça árabe, depressa diminuíram a distância que os separava do fugitivo. Este, presumindo as portas a Nascente abertas, para aí fez colear o cavalo. Porém, as sentinelas, vendo aquele vulto com bandeira moura estadeada, não abriram uma nesga.
Logo que ciente da situação, o cavaleiro deu uma palmada na garupa do cavalo e gritou:
- Salta, cavalo! Morra homem, fique a fama!
Morreu o homem e ficou a fama. Rebentou o cavalo e, ali mesmo, foi trucidado pelos inimigos. A bandeira fora arremessada pelo herói para dentro das muralhas. Com grande espalhafato de armas e celeuma de vozes, os mouros foram impotentes para recuperarem o galardão. Apenas levaram para a sua terra a lição de coragem que lhes servira o João Tição da Fonseca.»
(in Santos Costa, Almanaque Anuário de Trancoso)

Todas as fotos incluídas neste artigo são da autoria de JorgeF.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

"Vive Henri IV" (hino da monarquia francesa)

História e música. Voltamos aos hinos, desta vez visitando o pouco conhecido (para nós, portugueses) hino da monarquia francesa. "Vive Henri IV" foi composto por volta de 1590, em homenagem a Henrique de Bourbon, ou Henrique IV de França (1553-1610), igualmente conhecido por Henrique III de Navarra, pois foi também soberano daquele reino do nordeste da Península Ibérica antes de ascender ao trono da França em 1589, fundando a dinastia de Bourbon. Outros cognomes de Henrique IV: Henrique, O Grande; O Bom Rei Henrique; Henrique, o Verde Galante (uma alusão ao seu constante galanteio do sexo feminino - desde a Idade Média que o verde significava o amor ou a paixão).



O vídeo que aqui deixo foi respigado de uma apresentação inserida na página You Tube. A letra que acompanha as imagens corresponde à versão original, dos finais do século XVI. Uma letra diferente foi composta para o hino monárquico do período da Restauração, após o fim do I Império de Napoleão (1814). Nota: a primeira parte do vídeo compreende a versão instrumental; na segunda parte surge o hino cantado.

domingo, 12 de abril de 2009

Monumentos portugueses (1) - A torre-atalaia de Ródão e a capela de Nossa Senhora do Castelo



Inicio esta série com a apresentação de uma edificação militar de Vila Velha de Ródão, mais conhecida por "Castelo de Ródão". O "castelo" não é mais do que uma torre-atalaia, construída pelos cavaleiros Templários no período da Reconquista Cristã (século XII), no local onde existiu originalmente uma atalaia muçulmana datada do séc. VIII. Diz a tradição que ali existiu, ainda antes dos mouros terem erguido a primitiva atalaia, uma fortificação do período do rei visigodo Wamba (672-680). Atendendo ao local estratégico, deverá haver aí um fundo de verdade, ainda que a atribuição precisa a Wamba careça de fundamento sólido.




Perto da torre-atalaia fica a capela de Nossa Senhora do Castelo, construída pelos Templários ao mesmo tempo que a torre.

Fotos de JorgeF.