sábado, 29 de agosto de 2009

Monumentos portugueses (5) - Forte de São Julião da Barra



O Forte de São Julião da Barra fica situado na margem direita do rio Tejo. Era antigamente (séculos XVI e XVII) designado por "Forte de São Gião", pois foi erigido no local onde existira uma ermida dedicada àquele santo, na Ponta de São Gião. Foi o rei D. João III que mandou construir a fortificação, a qual passou a fazer parte do sistema defensivo da barra de Lisboa, em conjunto com o Forte de S. Lourenço do Bugio, o Baluarte de S. Vicente (Torre de Belém) e a Torre Velha da Caparica. As obras, iniciadas em 1553, só ficaram concluídas vinte anos mais tarde.

A fortificação conheceu obras de reforço e melhoramento durante a Monarquia Dual (a chamada "Dinastia Filipina"). É um erro frequente designar qualquer praça ou fortaleza que obedeça a uma planta aproximadamente pentagonal como sendo "estilo Vauban", pois este ministro de Luís XIV só nasceu em 1633, e a sua obra começa a notar-se apenas na década de 60 do século XVII. A traça italiana marca, se não a génese, pelo menos os melhoramentos que se efectuaram durante a Monarquia Dual no Forte de S. Julião.

Já no período da Guerra da Restauração (1641-1668), mais precisamente durante a década de 50, foram ampliadas e reforçadas as defesas da fortificação - ao estilo holandês, não ao "Vauban". Um século mais tarde, já no período Pombalino, foram necessárias mais obras de restauro e ampliação, sendo que o Terramoto de 1755 causou alguns estragos no complexo defensivo.

Além de presídio militar (no sentido de local que alberga uma guarnição militar), o Forte de São Julião da Barra serviu como cárcere, praticamente desde a sua origem. Prisioneiros condenados ao degredo por crimes cometidos trabalharam na sua edificação, no século XVI. Em 1640, quando ocorreu a Restauração da Independência, encontrava-se aprisionado nas masmorras do forte D. Fernando de Mascarenhas, 1º Conde da Torre. Foi ele quem conseguiu, através de negociação, a rendição do comandante espanhol e respectiva guarnição, onze dias depois da Revolução do 1º de Dezembro. Durante a Guerra da Restauração vários prisioneiros passaram pelas masmorras da fortaleza, entre os quais o oficial luso-catalão Pedro Bonete, que em 1643 foi ali executado, acusado de alta traição.



O prisioneiro mais célebre que por ali passou terá sido o general Gomes Freire de Andrade, acusado de ser um dos líderes da intentona contra a Junta de Governo em 1817 (a primeira - e frustrada - tentativa de levar a cabo a Revolução Liberal em Portugal). Gomes Freire foi executado nas proximidades do forte, junto à Estrada da Medrosa, em local hoje assinalado por um cruzeiro, bem perto das instalações actuais do Comando Ibérico da OTAN. Vale bem a pena ler a obra "Felizmente há Luar!", de Luís de Sttau Monteiro, inspirada neste episódio da História de Portugal - ou ver a peça representada!

Entre 1828 e 1834, período em que D. Miguel restabeleceu o Absolutismo e o país conheceu a Guerra Civil (1832-1834) entre Liberais e Absolutistas, o Forte de São Julião da Barra serviu como prisão para os defensores do Liberalismo. Ficaram tristemente célebres, devido à brutalidade exercida sobre os prisioneiros, o brigadeiro Teles Jordão e o seu filho, um garoto de treze anos (na época em que o seu pai era governador do forte) que se entretinha a maltratar os infelizes "malhados" (alcunha depreciativa dada aos defensores da causa Liberal).

Actualmente, o forte é a residência oficial do Ministro da Defesa.

Imagens: em cima, planta do forte de S. Julião da Barra, de 1700 (Biblioteca Nacional de Lisboa); em baixo, fotografia da autoria de JorgeF.