terça-feira, 11 de novembro de 2008

90º Aniversário do Armistício - 11 de Novembro de 1918




Passam hoje 90 anos sobre o fim dos combates naquela que foi, durante algum tempo, conhecida como A Grande Guerra. Houve quem lhe chamasse "a guerra para acabar com todas as guerras". Uma geração depois, um cataclismo bélico ainda maior obrigaria a uma reclassificação: a que terminara às 11 horas de 11 de Novembro de 1918 passaria a ser conhecida por Primeira Guerra Mundial.

O mundo mudou bastante após o suicídio colectivo da Europa, ocorrido entre 1914 e 1918. Nacionalismo extremo, militarismo, convicções e preconceitos civilizacionais destruíram impérios caducos e redistribuíram os povos, por conveniência ou acaso, num novo mapa político. Nas escolas dos anos 20, enquanto eram preparados para a carnificina seguinte, os alunos passaram a aprender nomes estranhos de países como Jugoslávia ou Checoslováquia. Souberam que a Polónia já existira e fora apagada do mapa várias vezes e agora emergia de novo. E que a Rússia era vermelha (e até já não se chamava Rússia, embora em alguns quadrantes houvesse receio de entrar em pormenores quando um estudante mais afoito perguntava o que queria dizer URSS). Observando de fora do velho continente dilacerado, a jovem nação dos Estados Unidos da América emergia como a grande vencedora, assumindo até hoje a hegemonia económica mundial que a Europa deixara cair.

A consciência dos europeus tardaria a compreender este facto. Nos anos imediatos ao conflito, a dor e a estupefacção pelas tremendas perdas humanas tomou conta dos que ficaram para recordar. Foi uma geração perdida, metralhada, bombardeada, gaseada, permanentemente jovem nos esqueletos e pedaços que se espalharam pelos campos de batalha. Sucediam-se as homenagens, o culto do Soldado Desconhecido, esse mártir anónimo que podia ser um qualquer filho, pai ou irmão. E os desfiles entre lágrimas a cada 11 de Novembro, juntando familiares dos mortos e os sobreviventes da mortandade, muitos com marcas demasiado visíveis do engenho assassino do Homem nas faces ou membros, ou na falta destes.

Portugal participou na Grande Guerra entre Março de 1916 e Novembro de 1918, nas frentes de guerra do noroeste europeu (Flandres) e de África (sul de Angola e norte de Moçambique). Declarou guerra à Alemanha e alinhou com a Tríplice Entente (Grã-Bretanha, França e Rússia) e seus aliados. Não vem agora ao caso descrever os motivos dessa participação. Hoje passam 90 anos sobre o fim de uma loucura colectiva. É tempo de recordar todos os que perderam a vida ou que sofreram atrozmente entre Agosto de 1914 e Novembro de 1918. Entre eles, muitos militares portugueses. Como todos os que participaram na Grande Guerra, merecem de nós a memória de um respeito sentido e o empenho presente na preservação da paz.

Para quem quer saber mais sobre o conflito (site em inglês):
http://www.firstworldwar.com/

Leituras escolhidas, em português:

FRAGA, Luís Manuel Alves de, O Fim da Ambiguidade. A Estratégia Nacional Portuguesa de 1914-1916, Lisboa, Universitária Editora, 2001. Sobre a situação internacional e a entrada de Portugal na guerra.

HENRIQUES, Mendo Castro; LEITÃO, António Rosas, La Lys, 1918. Os Soldados Desconhecidos, Lisboa, Prefácio, 2001. A derrocada do Corpo Expedicionário Português na Flandres, face à ofensiva alemã de 9 de Abril de 1918.

MARQUES, Isabel Pestana, Das Trincheiras com Saudade. A vida quotidiana dos militares portugueses na Primeira Guerra Mundial, Lisboa, A Esfera dos Livros, 2008. Alguns erros de pormenor aqui e ali, todavia longe de obscurecerem o magnífico trabalho da autora.

MIRÃO, Cardoso, Kináni? (Quem vive?). Crónica de Guerra no Norte de Moçambique, 1917-1918, Lisboa, Livros Horizonte, 2001. As misérias de uma estranha guerra na colónia portuguesa da África Oriental, contadas na primeira pessoa.

Leituras escolhidas, em outras línguas:

HANSON, Neil, The Unknown Soldier. The Story of the Missing of the Great War, London, Corgi Books, 2007. A reconstituição dos últimos meses de três militares desaparecidos na guerra (um inglês, um alemão e um americano), a partir das suas cartas para as respectivas famílias e de outra documentação, e um interessante estudo sobre o nascimento da homenagem ao Soldado Desconhecido.

MIQUEL, Pierre, Les poilus. La France sacrifiée, Paris, Plon, 2000. Narrativa extensa e bem detalhada sobre a Grande Guerra, na perspectiva do militar francês.

Imagem: Monumento aos Combatentes da Grande Guerra, Avenida da Liberdade, Lisboa. Foto de JorgeF.

4 comentários:

Anónimo disse...

É com prazer que vejo novos textos neste blog. Sempre que puder tenciono passar por cá para os ler.

Um abraço do seu antigo aluno,
Carlos Ramalhinho.

TELEMAQUIA disse...

Parabéns por este projecto tão interessante. Oxalá regresse em força!
Um abraço,
Temelaquia

Jorge disse...

Obrigado, Carlos, pelas tuas palavras. Este espaço também é teu. Se quiseres publicar algum artigo, entra em contacto comigo.
Um abraço e felicidades para os teus estudos.

Jorge P. Freitas

Jorge disse...

Aos amigos da telemaquia-org, os meus agradecimentos pela visita e pelo incentivo, que retribuo para o vosso projecto.

Jorge P. Freitas